terça-feira, 27 de outubro de 2009

TUDO TEM SEMPRE UMA RAZÃO

Numa longíqua cidade do Ocidente, vivia uma jovem chamada Fátima, filha de um próspero fiandeiro.
Um dia o pai lhe disse:
- Filha, faremos uma viajem pois tenho negócios a resolver nas ilhas do mediterrâneo. Quem sabe você não encontra por lá um jovem atraente, de boa posição, com quem possa se casar...
Assim, iniciaram a viajem, indo de ilha em ilha - o pai cuidava dos negócios e Fátima sonhava com o h
omem que talvez viesse a ser seu marido.
Mas um dia, quando se dirigiram a Creta, armou-se uma tempestade e o barco naufragou. semiconsciente, Fátima foi arrastada pelas ondas até chegar a uma praia perto de Alexandria. O pai estava morto, e ela se viu inteiramente desamparada.
Recordava-se pouco de sua vida naquele momento, pois a experiência do naufrágio e o fato de haver ficado exposta à inclemência do mar haviam-na deixado exausta e aturdida. Enquanto vagava pela praia, uma família de tecelões a encontrou. embora fossem pobres, acolheram-na em sua humilde casa e ensinaram-lhe seu ofício. Fátima iniciou uma nova vida e, em um ou dois anos, já estava se sentindo feliz de novo, reconciliada com sua sorte. Um dia, porém, quando passeava pela praia, um bando de mercadores de escravos desembarcou na ilha e a levou junto com outros cativos.
Apesar de ela se lamentar amargamente de seu destino, os mercadores não demonstraram nenhuma compaixão: levaram-na para Istambul e venderam-na como escrava. Pela segunda vez o mundo da jovem ruía.
Quis o destino, no enquanto, que naquela ocasião houvesse poucos compradores no mercado. Um deles era homem que procurava escravos para trabalhar em sua serraria, onde fabricava mastros para embarcações. Ao perceber o ar desolado e o abatimento de Fátima, decidiu compra-lá, pensando proporcionar-lhe uma vida um pouco melhor do que ela teria nas mãos de outro comprador.
O fabricante conduziu Fátima à sua casa, com a intenção de fazer dela uma criada para sua mulher. Ao chegar em casa, recebeu a notícia de que um carregamento seu fora saqueado por piratas e que perdera todo o dinheiro. Como não poderia mais pagar empregados, ele, a mulher e Fátima arcaram sozinhos coma pesada tarefa de fabricar mastros.
Grata ao patrão por tê-la resgatado, Fátima trabalhou tanto e tão bem que um dia ele lhe ofereceu a liberdade e a promoveu a sua ajudante de confiança. Assim, chegou a ser relativamente feliz em sua terceira profissão.
Certa vez, o fabricante de mastros lhe disse:
- Fátima preciso que você vá a Java, como minha representante, levando um carregamento de mastros. Procure vende-lós com lucro.
Então ela partiu. Quando o barco estava na altura da costa chinesa, um tufão o fez naufragar. Mais uma vez, Fátima foi lançada como náufraga em uma praia deserta de uma região desconhecida. Deitada na areia, de novo chorou amargamente, por sentir que em sua vida nada acontecia como ela esperava. Sempre que tudo caminhava bem, algo acontecia e destruía suas esperanças.
- Por que- perguntou - se pela terceira vez - sempre que tenho alguma coisa eu a perco? Por que devo passar por tantas desgraças?
Sem respostas, levantou-se e afastou-se da praia. Na China, claro, ninguém tinha ouvido falar de Fátima ou de seus problemas. Mas no país existia uma profecia sobre a chegada de uma mulher estrangeira capaz de fazer uma tenda para o imperador. Como naquela época não havia pessoa nenhuma na China que soubesse fazer tendas, todos aguardavam com ansiedade o cumprimento da profecia. Para terem a certeza de que, ao chegar ao país, uma estrangeira não passasse despercebida, os sucessivos imperadores, uma vez por ano, mandavam seus mensageiros a todas as cidades e aldeias pedir que qualquer mulher estrangeira fosse conduzida à corte. Foi exatamente numa dessas ocasiões que, esgotada, Fátima alcançou uma cidade costeira da China. Através de um intérprete, os habitantes do lugar fizeram-na entender que ela deveria ir à presença do imperador. - Senhora - disse o imperador, quando Fátima foi levada até ele - , sabe fabricar uma tenda? - Acho que sim, Majestade - respondeu a jovem. Pediu cordas, mas não havia. Lembrando-se de seus tempos de fiandeira, Fátima colheu linho e com ele fez as cordas. Depois precisou de um tecido resistente, pórem os chineses não tinham o tipo que ela precisava. Então, utilizando sua experiência com os tecidos de Alexandria, fabricou um tecido forte, próprio para tendas. Em seguida, precisou de estacas para a tenda, mas elas também não existiam no país. Recordando tudo que lhe ensinara o seu benfeitor em Istambul, Fátima fabricou mastros firmes. Quando ficaram prontos, ela puxou de novo pela memória, tentando lembrar-se de todas as tendas que vira em suas viagens. E uma tenda perfeita foi construída. Quando o imperador da China contemplou aquela maravilha, prontificou-se a satisfazer qualquer desejo de Fátima. Ela pediu-lhe apenas que a deixasse morar no país. Ele consentiu. Tempos depois, ela se casou com um belo príncipe e, rodeada por seus filhos, ali viveu intensamente feliz até o fim de seus dias. Mas foi só depois de todas essas aventuras que Fátima pode compreender algo fundamental: as experiências aparentemente desagradáveis do passado acabaram constituindo partes essenciais da sua felicidade.


"... Deus faz com que todas as coisas cooperem para o nosso bem ... " Rm 8:28

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